Comumente mencionado nas
filosofias e religiões orientais, o conceito de karma também tem sido agregado
fortemente pelas tradições esotéricas. Este sincretismo popularizado, porém,
vem acompanhado de conceitos e aplicações confusas, se perdendo no meio de
outros significados. Por isso, se faz importantíssimo o estudo de conceito e
aplicação da ideia deste tema para quem busca se aprofundar no caminho da
espiritualidade, pois é um dos pilares que determinam o estado de evolução em
que deveremos seguir ao longo da vida e após.
O que é Originalmente o karma?
Os primeiros registros sobre a noção de karma, vêm dos povos Védicos Upanishads e, por conta de sua localização geográfica, acabaram por ser fundamentais para o Hinduísmo, Budismo, Jainismo, entre outras religiões dos povos orientais. Em uma forma simplista e sincrética, a Lei do Karma afirma que o destino de evolução de um indivíduo após a morte é determinado por sua conduta durante a vida, pois qualquer ato gera consequências futuras. Entretanto, a interpretação acerca da Lei segue sutis variações de acordo com as religiões
Para o Budismo, uma ação
positiva gera um ou mais renascimentos virtuosos, enquanto uma ação incorreta,
produz sofrimentos e gera renascimentos negativos. Então, para que se alcance a
Iluminação (ou libertação), todo o karma das vidas passadas e atual devem ser
anulados quando o indivíduo alcança o verdadeiro esclarecimento.
O Hinduísmo já interpreta o
karma como uma lei ligada à lei de Sara, Libertação, quebrando o ciclo de
nascimentos. Porém, acompanha-se deste conceito a ideia Dharma, que seriam a
capacidade de se aproveitar as oportunidades de realizar ações corretas. O
Dharma de quem cumpre sua natureza inata evita, então, o acúmulo de karma
negativo.
Em congruência com as ideias das
religiões mencionadas anteriormente, o Jainismo acrescenta a ideia de que as
ações e emoções da vida determinam suas futuras reencarnações, como escolhas de
vida conscientes e inconscientes. Portanto, o estado mental é importante e por
isso, o Jainismo enfatiza a pureza dos pensamentos e o comportamento ético.
A ciência e a Interpretação
do Hermetismo do Ciclo de Causa e Efeito
Na ciência, podemos adaptar a
interpretação de karma observando as relações de causa e efeito, ação e reação
e o princípio da entropia, que é a lei da termodinâmica que determina a
capacidade de desordem ou de aleatoriedade de um sistema físico. Ela está
associada a irreversibilidade dos estados deste sistema. Para facilitar o
entendimento, proponho que mentalize um copo de vidro quebrado: ele não pode
ser revertido, não pode ser “desquebrado”.
O que está feito não pode ser desfeito e para reequilibrar um sistema de
funcionamento no universo, há um trabalho em potencial a ser realizado.
Portanto, tudo que existe possui
uma origem e é responsável pelas coisas futuras; todo ato gera uma reação de
mesma intensidade de força na direção inversa; e nenhum trabalho realizado em
um sistema físico não pode ser desfeito, mas tende a gerar reações que buscam reequilíbrio.
Assim como no estudo da física,
o Hermetismo replica a ideia de causa e efeito incorporado aos sete princípios
fundamentais do universo. Segundo O Caibailion, tudo acontece de acordo com a
lei, nada acontece sem razão, não há coisa que seja casual; que, no entanto,
existem vários planos de Causa e Efeito, os planos superiores dominando os
planos inferiores, nada podendo escapar da lei.
Junto ao o princípio da vibração, em que tudo está em constante
movimento – em maior ou menor grau- percebe-se, então, que o karma estaria em
constante rotação de fases.
Dito isso, não existe momento
nulo, momento sem uma ação de origem, mas, uma ação como produto e uma reação como
responsável pelo seguimento da ordem. Todos esses fatores trabalham
continuamente. Interpreta-se a partir
disso que a anulação do karma seria um horizonte muito distante de ser
alcançado ao tempo de referencias cósmicas.
Espiritualidade Prática (ou uma
tentativa de especulação aritmética sobre o karma)
Tendo discutido acerca dos
conceitos do karma nas doutrinas, e entendido que faz parte, tanto do sistema
físico/mecânico de funcionamento, quanto do sistema espiritual, faz-se
necessário entender que a aplicação da prática espiritual na roda kármica
também requer um entendimento acerca do estado mental e emocional ao se
reconhecer as energias acumuladas de seus atos durante a vida. O seu estado
mental é fator determinante para definir as características dos planos que você
irá se destinar. Torna-se, então, concreta a lei hermética da afinidade: semelhante
atrai semelhante.
Dito isso, realizemos um
exercício mental para construir uma equação kármica para aplicar em nossa
balança durante a vida. Já se adianta que este exercício é puramente
especulativo e não trata das operações matemáticas tradicionalmente, estando
apenas a cargo de uma ilustração para facilitar um auto entendimento.
Vamos enumerar os fatores que
podemos acrescentar à equação de acordo com as características fundamentais da
roda karmica. Os primeiros fatores a serem apresentados são a causa e
consequência, que podemos simbolizar respectivamente por Ca e Co. Estas causas
vêm acompanhadas de variáveis (Va), que são fatores externos. As variáveis são
fruto da interferência de resíduos da aplicação da lei de causa e consequência
em outros sistemas de interação. Para facilitar o entendimento, imaginemos uma
situação:
um homem se
irrita por alguma situação em sua casa e, em um ato de raiva se retira de casa
e decide dirigir seu carro para amenizar a tensão. Em alta velocidade na
estrada, uma das rodas do carro passa por cima de um arame arremessado de um
caminhão por um motorista desleixado e apressado, pois estava atrasado na
entrega de uma carga. O pneu do carro então estoura e o homem perde o controle
do carro, saindo da estrada e atingindo um animal.
Podemos identificar nesse caso
duas situações. Um homem irritado que saiu a dirigir e um caminhoneiro
desleixado. O produto de uma delas é o
arame lançado à estrada. Esta é a variável que interfere na consequência dos
atos do primeiro homem.
Consequentemente, podemos
identificar entre outras incógnitas como os Atos de Motivação Individual (Ai)
acumulados durante a vida em razão das Consequências Negativas (Con); os Atos
de Motivação Coletiva (Ac) em razão das Consequências Positivas (Cop). No
entanto, essas relações são interligadas. Podendo reconhecer os Ai podem gerar
Cop e os Ac também podem gerar Con.
Por sua vez, a Inércia entra
como uma relação de não ação. Porém, pela lei hermética da vibração e a lei
física da entropia, este fator tende ser maior que zero. Então, os momentos de
calmaria e de estresse contam como fatores fundamentais no estado mental
daquele que avalia seu karma. Portanto, podemos definir:
Inércia > 0 x ( vida calma + (-vida de estresse) = In x
[Vc +(- Ve)]
No entanto, vale observar que o Estado Emocional (Em)
durante os atos é um fator exponencial na consciência dos resultados. Nasce
assim, o fator arrependimento (Aae), pois a consciência acerca dos resultados
em que a pessoa foi responsável por gerar, sendo bons ou ruins, determinam a
forma em que esta vai estar disposta a se inserir na justiça universal. Este
indivíduo poderá se situar na roda do karma de acordo com sua consciência
acerca de seus atos. Temos então:
Estado emocional impressos nos atos = Em
Arrependimento sobre atitudes erradas = Aae
Por fim, chegamos à uma equação
inicial, onde se pode ilustrar o sistema de funcionamento do karma individual:
1 - (Ai * Ac + V ) /In * [Vc + (- Ve)] = Con/Cop *
Em/Aae = Limite > 0
2 - Onde: limite tende a ser maior que zero, pois a medida
que são acrescentados valores nos atos desta equação, a probabilidade de erro
do indivíduo tende a ser maior e, consequentemente, a probabilidade de anulação
do karma diminui.
(* =
multiplicação; / = divisão)
Portanto, vale reforçar
que este é apenas um exercício mental de como se organizaria uma balança de
karma. Isso, porque registrar todos os atos individuais e coletivos e suas
variáveis de causa e pensar em todas as suas consequências é humanamente
inviável e insano. Vale observar que
para efeito de funcionamento, não se usaria as operações matemáticas de forma
tradicional, mas sim utilizando dos atos e simbolismos de um exercício
especulativo. Porém vale a pena realizar este exercício para que estudantes posteriores
possam aprimorar esta equação. Conselhos
de modificação da estrutura da equação ou de acrescentar novos fatores são bem-vindos
na discussão.
Indagações e Palavras Finais
É importante analisar a
aplicação da lei do karma na vida prática, compreendendo este conceito como uma
junção dos conceitos semelhantes nas doutrinas, absorvendo a filosofia delas de
crescimento e evolução do ser. Questões como dor, sofrimento, prazer, orgulho,
vergonha, arrependimento são fatores determinantes no entendimento de sua
situação do karma, pois se o todo é mental, sua mente determina sua direção.
Portanto, pare um minuto e observe o que está sentindo. Avalie as suas ações as
suas consequências, ponha em uma balança as questões a serem observadas em sua
vida e exerça sua responsabilidade através do dom do livre arbítrio. As
propostas de equações subjetivas são apenas exercícios que não se mostram, por
enquanto, serem viáveis de aplicação.
Porém, é fundamental perceber que
nossa postura ética e virtuosa, em nossa rotina mundana, é muito mais determinante
da nossa aproximação com o divino do que as práticas e técnicas propostas pelos
estudos esotéricos. Pode-se indagar que a filosofia do “não agir” seja
aplicável, e de fato o é, mas não apenas isso. Pois, que evolução traria ao ser
agir como pedra? Não seria melhor, então, vir a este mundo como tal? No
entanto, vale lembrar que, para quem age dessa forma, uma pedra pode ajudar
aforrar o chão que pisa, mas também quebrar a vidraça de sua janela. Assim, o
não agir, se torna um ato de agir por mãos que não são suas.
Então, como sinal de respeito e
de sintonia com a lei do karma, bem como as leis de funcionamento do universo,
é admirável buscar o equilíbrio da vida por meio da virtuose. Pois todo homem,
toda mulher é uma estrela e o dom do livre arbítrio lhe permitiu a escolha. A
evolução acontece inevitavelmente e cabe a nós somente escolher como será os
meios dessa evolução. Já que não se pode desfazer o ontem, sinta o seu momento,
atue no hoje, seja a causa e o amanhã estará em equilíbrio.