Entre meus círculos de conversa sobre espiritualidade e ocultismo
eu tenho percebido alguns padrões de comportamento que podem ser nocivos a quem
quer ingressar nesse caminho. Esse caminho é feito de labirintos e se perder é
muito fácil. Entretanto, eu entendo que falar diretamente para essas pessoas o
que penso sobre sua crença ou sobre um fenômeno que ela vivenciou, além de ser
extremamente desmerecedor sobre as experiências pessoais, seria invasivo e
desestimularia a caminhada dessas pessoas no estudo do oculto. Afinal, quem
nunca se sentiu desacreditado e teve vontade de falar suas experiências para as
pessoas?
Eu gostaria de acrescentar que
ceticismo é diferente de negacionismo. Não negue piamente ou duvide dos
fenômenos experienciados, mas sim, tente descobrir o como e as causas dos
fenômenos. Também não pretendo dizer no que acreditar ou no que se deve negar.
A minha intenção nesta conversa é mostrar que há alguns pontos a serem
observados nas suas experiências, para evitar que você caia no conto das
“energias pesadas”, no conto dos signos, no conto da numerologia (eu os
utilizei como exemplo pois são os temas que as pessoas mais abordam nas
conversas sem saber realmente do que se trata), ou qualquer outro tema empurrado
por alguém, que aceita a alcunha de mestre de um grupo. Em tempos de realidades
inventadas, de facilidade em ludibriar pessoas nas redes, de compartilhamento
de mentiras para fomentar um caos civilizatório, um bom mestre nunca aceita sua
alcunha pois sabe que está sempre aprendendo ao mesmo tempo em que ensina e
duvidará das suas certezas à medida que seus companheiros alunos exercem sua
curiosidade.
É importante que a gente entenda
o ceticismo a partir do período positivista da filosofia, que buscava
distanciar o homem, não da fé propriamente dita, mas da ilusão de um mundo de
penitências e reinos de salvação promovidos por uma força divina representada
pela igreja. Isso acontecia muito mais pelos males da perseguição da igreja
católica promovida na época contra os povos que não se tornariam adepto de seu
regime de estado teocrático. A filosofia positivista buscava então implementar
o entendimento do mundo através da razão, propondo um sistema de métodos de
estudo, de observações e de experiências controladas para medir resultados.
Portanto, o homem moderno passou a pautar sua visão de mundo e suas atitudes
baseada na razão. E a fé nesse caso chegou a ser encarada pelos intelectuais da
época como um caráter de sabedoria limitada, ao mesmo tempo em que foram
realizadas muitas obras intelectuais que propunham uma reforma no processo
civilizatório no ocidente. Foi durante esse período que surgiram livros e
tratados como: Crítica da Razão Prática, Do Contrato Social, Discurso do
Método, Os Direitos do Homem, O Leviatã, O Espírito das Leis, entre muitos
outros, durante o século XVIII e XIX.
Outra abordagem importante para
gente pautar o ceticismo na espiritualidade está no tratado da doutrina
espírita. No Livro dos Espíritos, é abordado com muita ênfase, em seu início, a
importância de se investigar primeiro os fenômenos pelas suas causas naturais e quando
não houver mais alternativa, se torna plausível a indagação deste fenômeno ser
de caráter espiritual. Ainda que estes fenômenos sejam raros de se perceber no
dia-a-dia, é fácil de se levar pela emoção da convivência do mundo espiritual e
se iludir com as coisas naturais de nosso mundo, caindo na fantasia de achar
que qualquer fenômeno fora da normalidade seja de fato espiritual. Portanto, é
necessário muito cuidado, pois os deslumbrados e charlatões se apoiam nessa
fantasia e são os que mais se manifestam prometendo um novo mundo. O mesmo se faz
com alguns centros que se desviaram do caráter científico do estudo espírita e
caíram no conformismo de se pautar na fé e no conforto do contato com entes
queridos, ou no vício religioso de se estabelecer profecias.
Dito isso, rememoro os quatro
pilares do ocultismo para fortalecer seu estudo espiritualista: saber, calar,
querer ousar. Acrescento que deve ser usado não só na espiritualidade e na
magia, mas também na vida prática, na sua rotina. Esses quatro pilares, muito
bem popularizados por Eliphas Levi em seu livro, Dogma e Ritual de Alta Magia,
propõe um caminho para a construção do mago e a dissolução das interferências
do mundo externo no seu eu original, para que possa então realizar as operações
mágicas e utilizar da potencialidade de funcionamento do universo.
Parece algo fantasioso para
falar logo em relação ao Ceticismo, mas nesse caso, podemos utilizar esses
pilares para confrontar suas crenças. Em relação ao SABER, podemos nos remeter ao ato de
buscar, estudar, pesquisar, entender os fenômenos sob várias óticas; o CALAR, podemos
relacionar ao fato de sermos discretos e sempre buscar ser invisíveis como
ocultistas perante a sociedade, pois assim não interferimos nos fenômenos, nem
contaminamos nosso relato para o estudo; o QUERER, te mostrará o caminho das
suas vontades reais. É importante criar seus roteiros de estudo de acordo com
as motivações da sua curiosidade. Portanto, se torna vital entender bem o que
quer e separar do que é apenas desejo para não enviesar suas experiências atrás
de um resultado que satisfaça apenas seu ego; Por fim, ao OUSAR, além de suas
crenças enraizadas, você estará confrontando o seu medo do desconhecido, estará
invocando a coragem de agir e permitir errar para descobrir os caminhos que não
deverá seguir.
A partir destas analogias,
pode-se fazer sua estrutura de caminho pessoal para um desenvolvimento
espiritual que não se distorça aos moldes de dogmas, e falsos mestres. O
ceticismo é importante, pois a linha entre o caminho espiritual e o mundo da
fantasia é muito tênue e mesmo que a sua fé na espiritualidade seja algo forte, não significaria que tudo existe. Signos, energias, anjos, demônios, deus,
numerologia – apenas como um exemplo de termos que as pessoas usam sem saber. O
mundo natural, este mundo material, também é regido por leis físicas que são
belíssimas de serem apreciadas que mal conhecemos e, por acaso, alguns fenômenos podem ser
espirituais ou de caráter oculto. O equilíbrio entre o divino, o misterioso e o
natural é um ponto chave no estudo. Não se deixe retroceder ao ponto de permitir que, novamente, o nosso mundo seja assombrado pelos demônios.