Os Níveis da Consciência Pt.1: Entre Carl Jung e o Budismo

 



Hoje vamos falar sobre os níveis de consciência. Este assunto que a princípio me pareceu um dos mais difíceis de estudar. É um tema no qual nunca me familiarizei nem me aprofundei dignamente. E pensando nos dias de hoje, se torna ainda mais difícil, dada a quantidade de distrações e estímulos que nos desviam do caminho para obter uma consciência saudável.

Pare agora e tente lembrar: quando foi a última vez que você parou, fechou os olhos e sentiu o vento passando pelo seu corpo? Escutou o roncar dos motores, o barulho da rua, o som das folhas batendo? Como era? Qual foi a ultima vez que você parou e deixou fluir livremente por você as sensações que seu corpo permite sentir? Perceba a sua consciência trabalhando como observadora plena dos fenômenos entre os mundos.

Quando falamos de consciência falamos de um atributo que é um pilar importante na construção do ser humano, uma vez que, ao que conhecemos somos os únicos seres vivos deste planeta que possui consciência em relação às abstrações como cultura, contemplação da beleza de um objeto, e questões sobre a vida e a morte. Portanto a consciência é tão difícil de trabalhar, pois a única referência é nós mesmos

A consciência está ligada ao sentimento ou conhecimento, que permite ao ser humano vivenciar, experimentar ou compreender aspectos ou a totalidade de seu mundo interior. Isso quer dizer que quando estamos conscientes, temos conhecimento de quem somos, onde estamos, o que estamos fazendo e por quê o fazemos. Em termos herméticos, somos o um e estamos com o zero. Somos o um porque tomamos conhecimento de quem somos e o que nos delimita, conhecemos nossas virtudes e o nosso papel natural diante do lugar que a gente se encontra. E somos o zero porque conhecemos o nosso limite, conhecemos o que não é nosso, o que não vem de mim e não sou eu. Conhecemos a nossa fronteira. E a nossa fronteira não é a ignorância, mas na verdade o espaço de atuação do outro. Portanto, a consciência é uma qualidade da mente, do espírito.


Passando rapidamente sobre algumas qualidades da consciência, podemos mencionar:


- A habilidade para discriminar, categorizar e reagir a estímulos ambientais,

- A integração da informação através de um sistema cognitivo,

- A capacidade de relatar a ocorrência de estados mentais,

- A habilidade de um sistema para acessar seus próprios estados internos,

- O foco da atenção,

- O controle deliberado do comportamento,

- A diferença entre sono e vigília.


Estas sendo como principais e responsáveis pelo nosso senso de realidade que lá na frente vamos abordar.


Na filosofia, é comum que a consciência seja tratada de duas formas. Uma é a noção de fenômeno prático, que é o fato de estar ciente de algo, ciente das palavras ditas por alguém, ciente dos riscos, ciente dos direitos e deveres, ciente dos feitos de alguém. A outra forma é a que chamamos de consciência de acesso, que é o produto do processamento das nossas experiências. É o conhecimento através da vivência. Os nossos sentidos são a porta de entrada para o conhecimento.

Porém, ser consciente não quer dizer que você apenas percebe o mundo, mas na verdade quer dizer que você faz parte dele. É uma relação mútua: você é fruto do mundo e o mundo é fruto de suas interações. Pois, como disse antes, a consciência é um atributo da mente, do espírito.

Na psicologia, um dos autores mais conhecidos a abordar essa questão é Carl Jung, ao dividir a consciência do ser em ego e self. Segundo Jung, o ser humano já desenvolve sua consciência antes mesmo do seu nascimento, e quando crianças desenvolvemos por meio de quatro funções mentais: o pensamento, o sentimento, a sensação e a intuição. E uma delas pode acabar sendo predominante de uma pessoa pra outra. Em relação a Carl Jung o Ego é parte fundamental da mente humana, como um processo funcional composto por tudo aquilo que vimos, convivemos e percebemos. Sendo assim, é muito mais do que o simples “eu”, é a junção de lembranças, sentimentos e ideias que direcionam nosso comportamento e nos tornam conscientes.

 Já o Self, é uma parte “suprema” do indivíduo responsável por mover o ego e sua consciência, que é encarregado de desvendar e interpretar o que parece inconsciente e desconhecido. A predominância do “self” consiste em uma etapa da “individuação” dos seres, que ocorre ao longo da vida. A leitura conjunta de Ego e o Self constitui o ser que possui consciência e personalidade individual. 

Outra forma interessante de abordar esse tema é a divisão da consciência em seus níveis de desenvolvimento. Dentre as tradições orientais, o budismo aborda a consciência como um fator que agrega as qualidades sensoriais, desenvolvidas através da interação entre nossa mente e as energias de nossas experiências ao longo da vida.

O primeiro grau de consciência é a consciência do olhar e os nossos olhos físicos são a primeira janela para a nossa consciência. Onde enxergamos tudo que nos corresponde, as questões do nosso cotidiano, a primeira ponte para o estímulo de nossos sentimentos... É por onde todo o mundo toma forma e sentido. Uma moldura

Já do segundo grau ao quinto grau, tratamos dos outros 4 principais sentidos: audição, olfato, tato e paladar. Esses sentidos, juntos com a consciência do olhar, imprimem o retrato da sua dimensão de interação com a matéria. O som do vento batendo nas folhas, o cheiro da chuva encharcando a terra, o abraço de quem você ama, o gosto das maçãs. É a sua conexão com a natureza em constante fluxo. É a conexão entre seu corpo e o mundo.

O sexto grau é o da consciência mental, e a mente é poderosa pois não possui início nem fim. É cíclica. É por ela que interpretamos nossos sentidos e por ela que definimos nossas atitudes perante tais interpretações. O mundo que sentimos é responsável pelo que pensamos e o que pensamos pode alterar o mundo que vivemos. E também é por ela que abrimos a janela dos sonhos e dos delírios.  Ela permite que você armazene tanto boas quanto más energias. Portanto, cuidado. A mesma consciência te leva a um ciclo virtuoso ou vicioso que degrada os caminhos encontrados na vida.

A sétima consciência se chama manas. É a ponte para a sexta consciência e está ligada a noção do eu. É o plano de desenvolvimento do ego. Está sempre em constante busca pelo prazer e a todo modo e momento busca evitar o sofrimento. Ela ignora os aprendizados que muitas vezes o sofrimento traz e busca apenas o prazer momentâneo, e acaba por desconsiderar a vontade maior do eu. Então o ser que foge do sofrimento que nos aperta, não caminha em direção ao crescimento. Não evolui em direção à unidade. Não atingem a verdadeira felicidade. Daí que se faz transformar a mente presa pelo manas, em uma mente que domina seu manas.

A oitava consciência é a armazenadora. Ela armazena todas as energias das outras consciências anteriores ao longo de nossas vidas. Todas as nossas palavras, pensamentos, atitudes, impressões perante o mundo, ficam armazenadas neste grande baú. E o equilíbrio trazido por boas ou más energias dependem das consciências que construímos ao longo dos tempos.

Dito isso, é fácil observar o quanto é difícil compreender e dominar os oito níveis de consciência. Tal estado de sabedoria, requer uma vida inteira de meditação e vigília de nossas atitudes.  Uma vida inteira de plena atenção, de abertura ao aprendizado. Podemos entender até então e repetir quantas vezes for preciso, que a consciência passa pela compreensão agregada de quem somos, onde estamos, em que momento estamos, o que nos dizem nossos sentidos, o que nosso eu superior ( a verdadeira vontade) diz em nossa mente e o que esbarra no nosso eu primitivo (o ego).

Olha só, quantas dimensões falamos aqui para definir o que te forma como ser. Quantas dimensões dialogam pra dizer “eu estou aqui e sei o que eu quero”. Pra dizer, “estou empolgado” ou “eu tenho medo”. E quantas dimensões de nós mesmos estão desligadas nesses momentos de distração? Como chegamos ao ponto de nos permitir desligar nossas mentes perante aos estímulos das redes e do entretenimento?

A mente é poderosa e a consciência é um fio estreito que a qualquer momento se desliga e se abre para aceitar falsos desejos, falsas ideologias, falsos messias, falsas paixões. E então vêm o medo, a angustia, o ódio, a obsessão. Mas a mente é poderosa e a consciência também é um fio que se fortalece e, a cada momento de aprendizado, o seu “eu” encontra as peças de seu mapa espiritual. Você então sabe quem é de verdade, sabe onde está o seu equilíbrio, sabe o que quer e o que não quer. Sabe onde está a sua paz. E a sua paz está bem debaixo do seu nariz.

A consciência é a ponte para todos os fenômenos.

A consciência é o seu portal.